Padre Gleuson Gomes
Imagina
quem passa pela porta e vê a força com que vocês estão cantando e louvando, vão
querer saber de onde bem essa alegria e nós responderíamos: “É a presença de Deus no meio de nós!”
Ele vive e presente aqui está.
Normalmente o Cerco de Jericó é a
possibilidade de renovação da fé da comunidade, e neste tempo Pascal, nós
vivemos essa experiência. Nós fizemos a renovação das promessas batismais, e
agora a cada liturgia nós somos contagiados pela experiência da presença do
Cristo Ressuscitado.
A força da oração de tantas pessoas
auxiliou no processo de recuperação do meu câncer, o que me levou a crer que o amor cura. Nós podemos fazer muitas
coisas, mas se fazemos com amor tem um sabor diferente. Muita gente catequiza,
mas quem catequiza com amor, faz diferente. Muita gente canta, mas quem canta
com amor, faz diferente. O amor nos faz ir além. Essa é a experiência mais
bonita e eu quero testemunhar onde eu estiver. Uma menina de 6 anos mais ou
menos, puxou meu paramento e disse: “Eu estou rezando pelo senhor. E estou
jejuando.” Achei a mãe dela maluca por deixa uma criança jejuar, e aí quando eu
ouvi a continuação ela disse: “Eu não estou comendo sobremesa.” O amor faz com
que nos sintamos diferentes.
Muitos de nós esquecemos isso ao longo
da caminhada, muitos pais que deixam de demonstrar afeto pelos filhos e também
os filhos que deixam de honrar seus pais. Uma vez em um hospital geriátrico uma
senhora me abraçou achando que eu era filho dela, ela já não estava muito
lúcida e a enfermeira disse: “Ela sonha com a presença desse filho.” Não tive
coragem de dizer que não era o filho dela. Só o amor vence a morte.
(evangelho do dia) Felipe é conduzido
por Deus, um anjo de Deus disse a ele que alguém ali precisava ser conduzido. E
então Felipe vai até o eunuco, um pagão, e faz com que ele perceba que aquelas
palavras conduziam ao mistério de Jesus. Nós temos catequistas e catequistas,
padres e padres, diversos profissionais em várias áreas. Mas quando se há amor
naquilo que se faz, você vê um coração em cada gesto. Depois que eu tirei o
tumor na bexiga, meu médico me ligava todos os dias. Enchia-me de carinho e
delicada atenção. E eu disse a ele: “o Senhor é médico de vocação.” Precisamos
retomar a nossa essência, aquela pessoa boa está sempre aí no nosso coração.
Uma vez uma moça veio me procurar e eu
já sabia que era problema só de olhar. Sabe aquela pessoa que não ri e o
franzido da testa é permanente? “Muito novo o senhor.” – disse ela ao começar a
confissão – E pra cada pecado tinha uma justificativa. Eu tentava aconselhar
para levar luz aquele coração tão machucado. “Não concordo” – era sua resposta
para os conselhos -. Até que chegou uma hora que eu pensei que não poderia
ajudar um coração tão fechado. É como alguém que fala pra nós, que bota o dedo
da nossa ferida e diz: “Você tem que perdoar! Você tem que deixar essa mágoa de
lado”. Resistimos. Mas diante de Deus, quem resistirá? Deus sabe o endereço do
nosso coração! E naquele momento, diante daquela mulher, me vi impotente. Como
chegar ao coração ferido dela? Corações feridos acabam por ferir outros.
Pessoas difíceis, temperamentais... Quantos corações estão assim? E aí na minha
última tacada eu disse: “Posso rezar pela senhora?” e ela permitiu. Comecei a
fazer uma oração de cura, e quem já fez uma oração desta sabe como é difícil
derramar amor onde faltou amor. Amor este que vence a morte e é irresistível.
Esse amor uma vez experimentado por nós esta noite, não haverá coração que
sairá daqui da mesma maneira. Sem amor nós não somos nada. Podemos ter tudo mas
sem o amor, nada seremos. E então comecei a pedir ao Senhor amor para a vida
daquela mulher tão resistente, e quando eu impus as mãos sobre ela, ela virou
uma criança. Porque tinha unção, uma unção de cura sendo derramada. Até que ela
derramada aos meus pés começou: “Padre, me ajuda... Preciso amar meus filhos,
perdoar meu marido...” E ela precisava chegar nesse momento e admitir: “Eu preciso
ser amada.”
Algumas áreas nós deixamos reservadas
de Deus, escondemos dele. E vamos nos tornando como monstros, amargurados,
duros conosco mesmo. Como feridas ambulantes. Hoje podemos entender o caos que
vivemos, pais matando filhos, filhos matando pais... Que outras ciências digam
o que quiserem, na linguagem da fé, o ser humano está se tornando desumano e
isso só ocorre porque falta de amor. Por isso, beije muito sua mãe aos
domingos, demonstre seus afetos. Muitas feridas que vemos aí hoje em dia é
falta de amor. E a Eucaristia é amor sacramentado! Deus quer que você se nutra
da natureza dele, para que você seja curado. Afinal o Senhor diz: “Eu sou o pão
da vida!”. Quando o Senhor diz isso, ele quer dizer que há vida nesse amor
declarado. E isso se dá da maneira mais simples. Meus irmãos, o que é um pão?
Se você pressiona ele com as mãos, ele se fragmenta. Deus quis ser pão, de
fácil acesso. Um pão que se esfarela, um pão frágil. Como é que Deus pode se
esconder num pedaço de pão? Tão facilmente esfarelado em nossas mãos. Certa vez
um sacerdote duvidou, e sua dúvida foi porta para que muitas cressem, porque a
hóstia que estava em suas mãos, se tornou carne banhada em sangue. O milagre é conhecido como milagre de
Lancião, e a carne até hoje está exposta na Igreja na qual ocorreu. Perguntaram
a um cientista, um deles judeu, inclusive: “Como pode ocorrer isso? Um pedaço
de carne ter propriedade de algo vivo?” E o cientista respondeu: “É um milagre,
é esse Deus que você comunga.” A Igreja proclama presença real, não pela
qualidade do ministro, não pela qualidade da comunidade... Um sacramentado, com
valor em si mesmo, amor sacramentado.
No Cerco de Jericó, a Eucaristia é a
principal força para derrubar o muro. Queira este pão. Depois que Jesus aparece
ressuscitado, quase em todos os episódios, Jesus é revelado em momentos de
refeição. Como sua aparição aos discípulos de Emaús. Ainda estamos bebendo da
experiência de domingo (evangelho de Emaús). As vezes nos encontramos como
eles, desapontados por ver seu mestre crucificado, achando que as coisas não
darão mais certo... Decepcionados. Até que o Senhor aparece dando a eles nova
experiência. E de repente, com um sinal, o coração começa a arder. Você já
ouviu muita coisa na sua vida que não fez seu coração arder, mas você também já
ouviu muita coisa que fez arder.
Uma vez eu vi um menininho com a mãe
no meio da rua, e a mãe dizia: “Fica junto com a mamãe”. E ele respondeu a ela:
“Mesmo longe, você está perto.” A mãe ficou sem saber o que dizer, com olhos
cheios de lágrimas, e a criança repetiu. O coração ardeu. Quando a palavra de
Deus consegue descrever o que está dentro da gente, quando a palavra sacia a
fome da alma, o coração arde. Eles estavam abatidos, confusos, eles precisavam
de uma palavra de ânimo. Palavras que deem ânimo, que deem alma! Um amor que
precisava ir, mas queria ficar, como na última ceia. E desse sentimento, nasceu
a eucaristia. Desse sentimento nasceu o pão da vida. Quando Ele precisava ir,
mas também precisava ficar. E assim nasce o amor sacramentado. Na noite de hoje é isso que ficará gravado no
coração da gente. Vivamos a experiência da última ceia, pense no que Jesus
queria dizer ao se despedir enquanto queria ser presença no coração de seus
discípulos. Em João isso se desdobra de muitos modos; “O meu corpo que é dado
por vós, meu sangue da nova aliança, derramado por vós!” O amor sacramentado. A
Eucaristia que comungamos é a fome da alma saciada no amor sacramentado, em
Cristo Jesus. Jesus quer ser o alimento da sua vida, quer que seu coração arda
com suas palavras. É o amor que fica, que permanece, que cura. É o amor que
desvenda nossa alma e sabe onde faltou o amor por conta das fragilidades
humanas, das ausências. E Jesus quer derramar amor onde faltou amor, onde houve
ausências.
Você acha que não há como recomeçar,
não há como superar as marcas dessas ausências, Jesus derrama amor sobre tudo
isso. Sobre os abusos sexuais, os abandonos, as violências. O Senhor põe Suas
próprias mãos curadoras sobre todas as nossas dores através da Eucaristia. Derrama
teu coração na presença de Jesus e essa dor não será mais a mesma, você pode
não lembrar mas você não a sentirá como antes. Sobre toda a depressão, sobre
toda a história de ausências, Jesus pode curar se deixarmos Jesus ir ao segredo
do nosso coração.
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