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sexta-feira, 9 de maio de 2014

Síntese da Homilia do 5º dia do II CERCO DE JERICÓ

Padre Gleuson Gomes

            Imagina quem passa pela porta e vê a força com que vocês estão cantando e louvando, vão querer saber de onde bem essa alegria e nós responderíamos: “É a presença de Deus no meio de nós!” Ele vive e presente aqui está.
Normalmente o Cerco de Jericó é a possibilidade de renovação da fé da comunidade, e neste tempo Pascal, nós vivemos essa experiência. Nós fizemos a renovação das promessas batismais, e agora a cada liturgia nós somos contagiados pela experiência da presença do Cristo Ressuscitado.
A força da oração de tantas pessoas auxiliou no processo de recuperação do meu câncer, o que me levou a crer que o amor cura. Nós podemos fazer muitas coisas, mas se fazemos com amor tem um sabor diferente. Muita gente catequiza, mas quem catequiza com amor, faz diferente. Muita gente canta, mas quem canta com amor, faz diferente. O amor nos faz ir além. Essa é a experiência mais bonita e eu quero testemunhar onde eu estiver. Uma menina de 6 anos mais ou menos, puxou meu paramento e disse: “Eu estou rezando pelo senhor. E estou jejuando.” Achei a mãe dela maluca por deixa uma criança jejuar, e aí quando eu ouvi a continuação ela disse: “Eu não estou comendo sobremesa.” O amor faz com que nos sintamos diferentes.
Muitos de nós esquecemos isso ao longo da caminhada, muitos pais que deixam de demonstrar afeto pelos filhos e também os filhos que deixam de honrar seus pais. Uma vez em um hospital geriátrico uma senhora me abraçou achando que eu era filho dela, ela já não estava muito lúcida e a enfermeira disse: “Ela sonha com a presença desse filho.” Não tive coragem de dizer que não era o filho dela. Só o amor vence a morte.
(evangelho do dia) Felipe é conduzido por Deus, um anjo de Deus disse a ele que alguém ali precisava ser conduzido. E então Felipe vai até o eunuco, um pagão, e faz com que ele perceba que aquelas palavras conduziam ao mistério de Jesus. Nós temos catequistas e catequistas, padres e padres, diversos profissionais em várias áreas. Mas quando se há amor naquilo que se faz, você vê um coração em cada gesto. Depois que eu tirei o tumor na bexiga, meu médico me ligava todos os dias. Enchia-me de carinho e delicada atenção. E eu disse a ele: “o Senhor é médico de vocação.” Precisamos retomar a nossa essência, aquela pessoa boa está sempre aí no nosso coração.
Uma vez uma moça veio me procurar e eu já sabia que era problema só de olhar. Sabe aquela pessoa que não ri e o franzido da testa é permanente? “Muito novo o senhor.” – disse ela ao começar a confissão – E pra cada pecado tinha uma justificativa. Eu tentava aconselhar para levar luz aquele coração tão machucado. “Não concordo” – era sua resposta para os conselhos -. Até que chegou uma hora que eu pensei que não poderia ajudar um coração tão fechado. É como alguém que fala pra nós, que bota o dedo da nossa ferida e diz: “Você tem que perdoar! Você tem que deixar essa mágoa de lado”. Resistimos. Mas diante de Deus, quem resistirá? Deus sabe o endereço do nosso coração! E naquele momento, diante daquela mulher, me vi impotente. Como chegar ao coração ferido dela? Corações feridos acabam por ferir outros. Pessoas difíceis, temperamentais... Quantos corações estão assim? E aí na minha última tacada eu disse: “Posso rezar pela senhora?” e ela permitiu. Comecei a fazer uma oração de cura, e quem já fez uma oração desta sabe como é difícil derramar amor onde faltou amor. Amor este que vence a morte e é irresistível. Esse amor uma vez experimentado por nós esta noite, não haverá coração que sairá daqui da mesma maneira. Sem amor nós não somos nada. Podemos ter tudo mas sem o amor, nada seremos. E então comecei a pedir ao Senhor amor para a vida daquela mulher tão resistente, e quando eu impus as mãos sobre ela, ela virou uma criança. Porque tinha unção, uma unção de cura sendo derramada. Até que ela derramada aos meus pés começou: “Padre, me ajuda... Preciso amar meus filhos, perdoar meu marido...” E ela precisava chegar nesse momento e admitir: “Eu preciso ser amada.”
Algumas áreas nós deixamos reservadas de Deus, escondemos dele. E vamos nos tornando como monstros, amargurados, duros conosco mesmo. Como feridas ambulantes. Hoje podemos entender o caos que vivemos, pais matando filhos, filhos matando pais... Que outras ciências digam o que quiserem, na linguagem da fé, o ser humano está se tornando desumano e isso só ocorre porque falta de amor. Por isso, beije muito sua mãe aos domingos, demonstre seus afetos. Muitas feridas que vemos aí hoje em dia é falta de amor. E a Eucaristia é amor sacramentado! Deus quer que você se nutra da natureza dele, para que você seja curado. Afinal o Senhor diz: “Eu sou o pão da vida!”. Quando o Senhor diz isso, ele quer dizer que há vida nesse amor declarado. E isso se dá da maneira mais simples. Meus irmãos, o que é um pão? Se você pressiona ele com as mãos, ele se fragmenta. Deus quis ser pão, de fácil acesso. Um pão que se esfarela, um pão frágil. Como é que Deus pode se esconder num pedaço de pão? Tão facilmente esfarelado em nossas mãos. Certa vez um sacerdote duvidou, e sua dúvida foi porta para que muitas cressem, porque a hóstia que estava em suas mãos, se tornou carne banhada em sangue.  O milagre é conhecido como milagre de Lancião, e a carne até hoje está exposta na Igreja na qual ocorreu. Perguntaram a um cientista, um deles judeu, inclusive: “Como pode ocorrer isso? Um pedaço de carne ter propriedade de algo vivo?” E o cientista respondeu: “É um milagre, é esse Deus que você comunga.” A Igreja proclama presença real, não pela qualidade do ministro, não pela qualidade da comunidade... Um sacramentado, com valor em si mesmo, amor sacramentado.
No Cerco de Jericó, a Eucaristia é a principal força para derrubar o muro. Queira este pão. Depois que Jesus aparece ressuscitado, quase em todos os episódios, Jesus é revelado em momentos de refeição. Como sua aparição aos discípulos de Emaús. Ainda estamos bebendo da experiência de domingo (evangelho de Emaús). As vezes nos encontramos como eles, desapontados por ver seu mestre crucificado, achando que as coisas não darão mais certo... Decepcionados. Até que o Senhor aparece dando a eles nova experiência. E de repente, com um sinal, o coração começa a arder. Você já ouviu muita coisa na sua vida que não fez seu coração arder, mas você também já ouviu muita coisa que fez arder.
Uma vez eu vi um menininho com a mãe no meio da rua, e a mãe dizia: “Fica junto com a mamãe”. E ele respondeu a ela: “Mesmo longe, você está perto.” A mãe ficou sem saber o que dizer, com olhos cheios de lágrimas, e a criança repetiu. O coração ardeu. Quando a palavra de Deus consegue descrever o que está dentro da gente, quando a palavra sacia a fome da alma, o coração arde. Eles estavam abatidos, confusos, eles precisavam de uma palavra de ânimo. Palavras que deem ânimo, que deem alma! Um amor que precisava ir, mas queria ficar, como na última ceia. E desse sentimento, nasceu a eucaristia. Desse sentimento nasceu o pão da vida. Quando Ele precisava ir, mas também precisava ficar. E assim nasce o amor sacramentado. Na noite de hoje é isso que ficará gravado no coração da gente. Vivamos a experiência da última ceia, pense no que Jesus queria dizer ao se despedir enquanto queria ser presença no coração de seus discípulos. Em João isso se desdobra de muitos modos; “O meu corpo que é dado por vós, meu sangue da nova aliança, derramado por vós!” O amor sacramentado. A Eucaristia que comungamos é a fome da alma saciada no amor sacramentado, em Cristo Jesus. Jesus quer ser o alimento da sua vida, quer que seu coração arda com suas palavras. É o amor que fica, que permanece, que cura. É o amor que desvenda nossa alma e sabe onde faltou o amor por conta das fragilidades humanas, das ausências. E Jesus quer derramar amor onde faltou amor, onde houve ausências.
Você acha que não há como recomeçar, não há como superar as marcas dessas ausências, Jesus derrama amor sobre tudo isso. Sobre os abusos sexuais, os abandonos, as violências. O Senhor põe Suas próprias mãos curadoras sobre todas as nossas dores através da Eucaristia. Derrama teu coração na presença de Jesus e essa dor não será mais a mesma, você pode não lembrar mas você não a sentirá como antes. Sobre toda a depressão, sobre toda a história de ausências, Jesus pode curar se deixarmos Jesus ir ao segredo do nosso coração.
           

           

            

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